2006/04/05

Mais aniversários: Tracy, Davis, Peck


Eu escrevi no último post que o próximo texto seria a continuação da revisão Visconti, mas tive que voltar atrás devido a um motivo especial: hoje fariam aniversário Gregory Peck, Bette Davis e Spencer Tracy. Não posso ficar escrevendo toda vez que uma data for aniversário de gente importante, mas esses aqui merecem pelo menos a indicação de seus melhores filmes existentes no mercado nacional de DVD.

Spencer Tracy: junto com Tom Hanks, Tracy foi o único ator a vencer o Oscar de melhor ator em dois anos consecutivos. Os filmes (Marujo Intrépido e Com os Braços Abertos) não estão disponíveis, mas o cinéfilo pode encontrar cinco de suas nove parcerias com Katharine Hepburn, sua companheira na tela e na vida. Minha recomendação especial é A Costela de Adão, sofisticadíssima comédia onde Tracy e Hepburn são dois advogados casados que se enfrentam no tribunal num caso de assassinato. Tracy também faz uso maravilhoso de seu tipo bonachão em O Pai da Noiva, o clássico que Vincente Minnelli dirigiu em 1951.

Tracy & Hepburn em A Costela de Adão
Bette Davis: recentemente homenageada com uma caixa da Warner com quatro filmes (Vitória Amarga, A Carta, Vaidosa e Lágrimas Amargas). A Carta é um dos melhores filmes do diretor William Wyler, mas a caixa se ressente da ausência de A Estranha Passageira, lendário melodrama do mesmo ano de Casablanca, e citado em outro clássico, Verão de 42, de Robert Mulligan.
A melhor Bette Davis, entretanto, está em A Malvada, comédia dramática de Joseph L. Mankiewicz vencedora do Oscar de melhor filme de 1950. A mais forte concorrência é o grand guignol O que Terá Acontecido a Baby Jane?, de Robert Aldrich. Nos dois filmes, Bette interpreta uma estrela decadente me estágios diferentes: em A Malvada vê a ascenção de sua ex-camareira na Broadway, em Baby Jane já está completamente alucinada massacrando a irmã paralítica (Joan Crawford) que cometeu o pecado de fazer mais sucesso. Pura intensidade, Bette Davis.
Bette Davis e Joan Crawford se odiavam, na frente e atrás das câmeras; na foto do alto, à esquerda, A Malvada: Bette enfrenta Anne Baxter na frente de George Sanders - ninguém presta.
Gregory Peck: Ele não precisava ser tão bom ator, bastava sua criação do advogado Atticus Finch em O Sol é Para Todos para lhe garantir o céu dos atores. Finch é o viúvo advogado de uma cidadezinha no interior do Alabama que vai ousar defender um negro em um caso de estupro, enfrentando a sociedade local. Peck venceu o Oscar (batendo o também perfeito Peter O'Toole em Lawrence da Arábia), muito merecidademente, pois se trata de um daqueles momentos em que um artista atinge o domínio máximo e absoluto de suas habilidades. O filme, adaptado do espetacular romance homônimo de Harper Lee, está à altura.
Atticus Finch, o maior herói do cinema americano segundo o American Film Institute
Além de O Sol É Para Todos, há mais de 20 filmes com o ator no mercado, filmes onde ele quase sempre vai representar o bastião da dignidade e da justiça, mas sempre de maneira humana. É assim no grande e classudo faroeste Da Terra Nascem os Homens, de William Wyler, em que ele acaba com todos os brutamontes sem dar um tiro, mostrando desdém por toda a violência desnecessária numa briga entre famílias do Velho Oeste. Ainda há o jornalista que faz uma reportagem sobre o anti-semitismo americano se passando por judeu de A Luz é Para Todos, de Elia Kazan.

Peck e a superação da violência em Da Terra Nascem os Homens
Há em sua carreira filmes menos engajados, mas de igual qualidade. Em A Princesa e o Plebeu, também de William Wyler, ele é um jornalista em Roma com um grande furo nas mãos: vai ser o cicerona de uma princesa escandinava fujona, Audrey Hepburn. Há ainda um terceiro papel importante nessa profissão, em Teu Nome é Mulher, de Vincente Minnelli, onde interpreta um editor de esportes casado com uma sofisticada estilista (Lauren Bacall). A Profecia é uma inusitada incorrência no filme de suspense dos anos 70, uns bons 30 anos depois de uma colaboração com Alfred Hitchcock, no ótimo Quando Fala o Coração. Os Canhões de Navarone, de J. Lee Thompson é outro momento de extrema elegância de Peck num thriller de guerra.
O vilão terrível de Duelo ao Sol: interpretação espetacular
São todas excelentes performances, mas os grandes desafios dramáticos (além de O Sol é Para Todos, é claro) de Peck estão em dois títulos da distribuidora Classicline. Em As Neves do Kilimanjaro, de Henry King e baseado em Hemingway, ele interpreta um moribundo que, à beira da montanha africana citado no título, reavalia sua vida de paixões perdidas e alta sociedade. Peck é perfeito transmitindo o tom melancólico e trágico do personagem. O outro filme, traz aquela que deve ser sua segunda melhor interpretação. No faroeste Duelo Ao Sol, de King Vidor, ele é um fora-da-lei que disputa a sensual mestiça Jennifer Jones com o irmão certinho. Peck é galante, mas essa característica é ofuscada pelo ódio intenso que o personagem provoca. Trata-se de um vilão, sem escrúpulos, assassino cruel, mas humano o suficiente para se ver perdido de paixão. Vale ressaltar também que o tom de Duelo Ao Sol, como já disse Martin Scorsese, extremamente adulto pra época em que o filme foi feito (1946), sendo totalmente dirigido e determinado pelo sexo. Um filme selvagem.
Nota: também nasceu num 5 de Abril Melvyn Douglas, o astro de Ninochtka, de Lubitsch, e vencedor do Oscar de melhor ator coaduvante pela obra-prima O Indomado, de Martin Ritt.

5 Comments:

Blogger André Setaro said...

Aqui está parecendo uma festinha de aniversário, que, antigamente, chamava-se 'Chocolate'. O que Gregory Peck gostaria de receber em seu aniversário? O que Doris Day adoraria ter como um mimo de um amigo querido?
É brincadeira, Saymon, seu blog está muito bom, mas fique 'manero' nas datas natalícias

10:32 AM  
Blogger Saymon Nascimento said...

Que honra, Setaro, tê-lo comentando neste blog. Uma festa de aniversário coletiva deste nível seria até divertida, mas não tenho a disposição para fazer isso sempre. O texto da Doris Day só surgiu pelo sentimento de injustiça com seus talentos, e o outro pela ocasião de todos esses grandes atores terem nascido na mesma data, ainda que em anos diferentes. Não dava pra ignorar. Abraço.

8:18 PM  
Blogger André Setaro said...

Vi quase todas as comédias de Doris Day com Rock Hudson, considerando a melhor delas 'Confidências a meia-noite' (Pillow talk', 1959), por sinal a primeira. Michael Gordon, o diretor, é muito bom. Há uma 'sophisticated comedy' com Hudson e Gina Lollobrigida (atriz italiana que fez imenso sucesso e foi tentar carreira em Hollywood, e era chamada de Loló), que se chama 'Quando setembro vier' ('Come september', 1961), do grande Robert Mulligan. Um diretor com estilo e refinamento era Richard Quine ('Quando Paris alucina', 'Aconteceu num apartamento', 'Sortilégio do amor', 'Como matar sua esposa', etc).

9:25 AM  
Blogger Saymon Nascimento said...

Pillow Talk é bastante bom, mas não o vejo como produto tão bem polido como Volta, Meu Amor.
Uma pena que Quando Setembro Vier não esteja disponível em DVD. Mulligan me parece muito interessante. Além de O Sol é Para Todos, gosto muito de Verão de 42, com a música de Legrand e a beleza de Jennifer O'Neill.
De Quine, só vi os disponíveis Sortilégio de Amor e Quando Paris Alucina, excelentes.

6:37 PM  
Blogger Angelov said...

atualiza!

9:30 AM  

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